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Tudo começou com as mesas girantes

A nomenclatura Doutrina Espírita ou dos Espíritos decorre do fato de terem sido eles, os Espíritos, que trouxeram os esclarecimentos a respeito das manifestações ou fenômenos espirituais que despertaram a atenção do mundo, particularmente, em meado do século XIX, com as chamadas “mesas girantes e dançantes”. "O efeito mais simples, e um dos primeiros a serem observados, foi o do movimento circular numa mesa. Esse efeito se produz igualmente em qualquer outro objeto. Mas sendo a mesa o mais empregado, por ser o mais cômodo, o nome de mesas girantes prevaleceu na designação desta espécie de fenômenos". (1)

Amplamente difundidos na Europa e nos Estados Unidos, os fenômenos de efeito físico, num segundo momento, despertaram o interesse científico em desvendar as possíveis causas que, de forma aparentemente invisível, produziam os movimentos nos objetos. O que havia por trás do espesso véu do desconhecido e da superstição começou a ser levantado, contrariando os argumentos cegos e revelando com “provas irrecusáveis a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas  relações com o mundo corporal”. (2)

O conceituado professor da época, autor pedagógico famoso, Hippolyte Léon Denizard Rivail (Lyon, 1804- Paris, de 1869), posteriormente, mais conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec, inicialmente, negou-se a dar algum crédito aos fenômenos das mesas girantes. “Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto da carochinha.” (3) Essa foi a sua resposta ao amigo e magnetizador, o Sr. Fortier, quando em fins de 1854, lhe trouxe a notícia extraordinária: “não só se consegue que uma mesa se mova, magnetizando-a, como também que fale. Interrogada, ela responde”. (4)

Finalmente, em maio de 1855, aceitou o convite feito pelo Sr. Pâtier para assistir às experiências realizadas na casa da Sra. Plainemaison. Como nos relata Kardec: “Foi aí que, pela primeira vez, presenciei o fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam, em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvida.” (5) Ficou convencido de que algo mais sério ocorria por detrás daquele fato. Diante disso, o Professor Rivail concluiu sobre a existência dos Espíritos, ao verificar que a origem das manifestações era extraterrena, geradas por almas de pessoas que haviam vivido na Terra. Mas, foi somente em 1856, na casa do , após observações cuidadosas, que Kardec inicia “O Livro dos Espíritos”. (6)

Uma nascente Doutrina de cunho religioso-filosófico- científico despontava no horizonte, trazendo novas esperanças para a elevação espiritual da Humanidade, numa época em que predominava na Europa o pensamento materialista, racionalista e científico. Kardec estava ciente da grandiosidade da sua missão: “Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurara em toda a minha vida”. (7)

“Frequentando reuniões inúmeras, onde, por meio da “cesta”, muitas vezes se obtinham comunicações que deixavam fora de qualquer dúvida a intervenção de entidades estranhas aos presentes”(8), Rivail formulou diversas perguntas, metodicamente organizadas, cujas respostas gradativamente foram sendo explicitadas pelos espíritos. As questões tratavam sobre Filosofia, Psicologia e a natureza do mundo invisível. Médiuns diversos colaboraram como intermediários com o além – pessoas com aptidões e percepções mais aguçadas, capazes de captar e traduzir os pensamentos dos espíritos.

Assim, Kardec sistematizou e codificou todo esse conhecimento, revelando em sua obra o registro de um espírito crítico e observador profundo dos homens e das coisas, “uma prudência, um equilíbrio, uma sobriedade, um espírito positivo e despreconcebido, um bom senso”. (9) Correlacionou os relatos dos Espíritos aos médiuns, com pesquisas sobre a existência de dados que pudessem dar a eles uma base coerente e plausível. Deste modo, foram sendo construídos os livros básicos da Doutrina Espírita: O Livro dos Espíritos; O Livro dos Médiuns; O Evangelho Segundo o Espiritismo; O Céu e o Inferno e A Gênese.

Com esse breve histórico sobre a origem dos pilares do Espiritismo, temas como esse e outros são enfocados nos programas de estudos doutrinários do IEDE, sempre através de reflexões e questionamentos. Pois, só a fé raciocinada pode nos dar o rumo seguro para seguirmos o roteiro traçado por Jesus no Evangelho.

Esperamos que você se motive ainda mais para estudar a Doutrina Espírita, inscrevendo-se na nossa programação prevista para este ano.

Iliana Quelhas

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(1) Livro dos Médiuns, Cap. 2 – Manifestações físicas e mesas girantes, item 60.

(2) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. I, Não vim destruir a lei, item 5.

(3) Obras Póstumas, Allan Kardec, Segunda Parte, Cap. A minha primeira iniciação no Espiritismo, FEB, 2005, 37ª. edição, pág. 265.

(4) Ibidem.

(5)  Idem, ibidem.

(6) Allan Kardec, O educador e o codificador, Zeus Wantuil e Francisco Thiesen, Volume I, 2ª. edição, FEB, pág. 265.

(7) Obras Póstumas, Allan Kardec, Segunda Parte, Cap. A minha primeira iniciação no Espiritismo, FEB, 2005, 37ª. edição, pág. 268.

(8) Allan Kardec, O educador e o codificador, Zeus Wantuil e Francisco Thiesen, Volume I, 2ª. edição, FEB, pág. 268.

(9) Por que Allan Kardec? Silvio Seno Chibeni, em://www.espirito.org.br/portal/artigos/geeu/porque- kardec.html


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